segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ESTADO DE MATO GROSSO
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
CENTRO DE FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO NO POLO DE ALTA FLORESTA

REFLETINDO SOBRE CURRÍCULO ESCOLAR A PARTIR DAS TEORIAS E TEÓRICOS CURRICULISTAS

CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

Professor Formador: Carlos Alberto Cardoso

Concepções de currículo

A palavra CURRÍCULO, vem do latim: curriculum, que significa: ato de correr, pista de corrida, curso, percurso. Segundo William Pinar, o currículo é compreendido como uma atividade, mas uma atividade que não se limita à nossa vida escolar, educacional, mas à nossa vida inteira.
As questões centrais que servem de pano de fundo para quaisquer teorias de currículo são:
Qual conhecimento deve ser ensinado?
Por que esses conhecimentos e não aqueles devem ser selecionados?
Quais interesses fazem com que sejam esses conhecimentos presentes no currículo e não outros?
Qual é minha concepção de ser humano?
Qual minha concepção de sociedade, de mundo?
Qual o perfil de ser humano desejável para determinado tipo de sociedade?
“Currículo como instrumento de formação humana. É um instrumento de socialização do conhecimento por excelência” ( Elvira S. Lima )
Para ela, o eixo estruturante do currículo e da docência, é o CONHECIMENTO.
Neste caso, a escola é concebida como espaço de ampliação da experiência humana
“Currículo é visto como experiência escolar que se desdobra em torno do CONHECIMENTO e em meio às relações sociais que contribuem para a construção das identidades dos alunos”.
O currículo é o coração da escola. Todos os agentes educativos são co-responsáveis pela construção do processo educativo.
Drº Ramond Williams ( 1980 )
Currículo são as escolhas, decisões que fazemos diante de vasto leque de possibilidades, é um conjunto de práticas que produzem significados”.
Decisão é um ato de coragem. Segundo Jean-Paul Sartre, somos livres na decisão, porém não livres da decisão.

Segundo Moreira e Silva (1999)
“Currículo não é um veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas sim, é um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se produz e se reproduz a cultura”.
“Currículo refere-se, portanto, a criação, recriação, contestação e transgressão”.
A ênfase do currículo está no respeito à cultura dos agentes envolvidos no processo educativo.

Segundo BOBBIT (1918) TEORIA TRDICIONAL DE CURRÍCULO
Currículo é visto como processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos.
O modelo institucional dessa concepção, é a FÁBRICA.
No discurso curricular deste autor, o currículo é supostamente a especificação precisa de OBJETIVOS, PROCEDIMENTOS e MÉTODOS para obtenção de RESULTADOS que possam ser mensurados.

Segundo Henry Giroux
“O currículo envolve a construção de significados e valores culturais. É o local onde ativamente, se produzem e se criam significados sociais”.
Os professores têm de ser vistos como pessoas ativamente envolvidas nas atividades da crítica e ao questionamento e não como meios técnicos ou burocratas.
O currículo não pode ser visto apenas como conjunto de conteúdos e métodos a serem aprendidos pelos alunos.
O currículo na concepção deste autor, é visto como uma forma política cultural do processo de escolarização.

Segundo Gimeno Sacristán (1988
“Currículo é a concretização da posição da escola frente à cultura”.
“É o projeto cultural de socialização que explicita a intencionalidade da instituição educativa”.
O conteúdo cultural é a condição lógica do ensino e o currículo é a estruturação desta lógica.
Sacristán afirma ainda que o currículo é um projeto seletivo de cultura e, isto, representa uma opção política. Esta opção é historicamente condicionada.
O currículo é um conjunto de intenções ( metas que se deseja alcançar) e um plano de ações ( conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, métodos de ensino, atividades, sistemas e processos de avaliação...).
“O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade externa, a escola e a educação, entre o conhecimento e a cultura herdados e a aprendizagem dos alunos, entre a teoria e a prática social, dadas determinadas condições”.
Miguel Arroyo ( 2010 )
“ mexer no currículo não é tarefa nada fácil...é complicado”.
“ O currículo condensa estrutura de poder e organização do nosso trabalho”.
“ O conhecimento está sendo desterrado do currículo, dando espaço a um currículo por habilidades e competências”.
Questiona: Que centralidade vai ter o conhecimento no currículo?
“Há muito conhecimento morto, vencido. Os currículos estão cheios de conhecimentos mortos e não de conhecimento vivo.
Questiona: O que seria então conhecimento vivo?
“ É aquele que tem de dar conta das indagações do nosso tempo. É aquele que ajuda os estudantes a entenderem o mundo, entender o seu tempo”.

Segundo Rosa Neide ( Seduc 2010)
Currículo é a ferramenta principal para a qualidade da educação na escola.
“ Currículo é um conjunto de ações que centraliza os conhecimentos escolares e estabelece relações: culturais, relações de poder, relações étnicas, relações sociais...”
Para ela, o eixo estruturante do currículo que ora se propõe, é o trabalho como práxis humana. Ou ainda, conhecimento, trabalho e cultura.

Jorcelina Fernandes ( UFMT 2009)
Que projeto de Currículo seria necessário?
Mas, o que é currículo? Qual a nossa concepção de currículo?
Ao definir currículo, nós estamos ou devemos estar comprometidos com decisões anteriores:
O campo específico do currículo está altamente influenciado por um conjunto de valores educacionais, a respeito dos quais é necessário que nós nos definamos.
Dependendo da perspectiva teórico-conceitual de educação, de sociedade e de homem, se constrói uma concepção de currículo.
O currículo envolve sempre questões de tomadas de decisões teóricas/ conceituais/ metodológicas e técnicas.

Para Apple (1992)
“o currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimentos, que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula... Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de um grupo a cerca do que seja conhecimento legítimo”.

Para Dewey (1902)
“o valor do currículo está na possibilidade que dá ao educador, de determinar o ambiente, o meio necessário a aprendizagem da criança, e , assim, dirigir indiretamente a sua atividade mental”.

As principais Teorias do currículo:

1.Teoria Tradicional ( Bobbit, Tyler e Dewer )
2.Teoria Crítica ( Pierre Bourdieu, Michel Apple, Henry Giroux, Paulo Freire, Moacir Gadott, Louis Althusser, Karl Marx, José C. Libâneo, Acácia Kuenzer...
3.Teoria Pós-Crítica. ( Frederico Nietzche, Foucault, Derrida, Heiddeger, Saussure, Deleuze, Lacan...
Conceitos norteadores/estruturantes ( Teoria Tradicional)
ENSINO
APRENDIZAGEM
AVALIAÇÃO
METODOLOGIA
DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO
PLANEJAMENTO
EFICIÊNCIA
OBJETIVOS
O currículo é pensado na perspectiva da educação de massas. Nasce no contexto de desenvolvimento das indústrias nos EUA. Neste sentido, o modelo de currículo aqui apresentado, se assemelha à organização de uma empresa.
Na teoria tradicional, o currículo é uma questão técnica. Pautam-se em objetivos, habilidades para alcançar resultados. Analise os eixos estruturantes acima mencionados e desloca o pensamento para a prática de nas escolas. Há algo semelhante? Ou mera coincidência?

Conceitos norteadores ( Teorias Críticas )
IDEOLOGIA
REPRODUÇÃO CULTURAL E SOCIAL
PODER
CLASSE SOCIAL
CAPITALISMO
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO
CONSCIENTIZAÇÃO
EMANCIPAÇÃO / LIBERTAÇÃO
CURRÍCULO OCULTO
RESISTÊNCIA
A teoria crítica do currículo tem sua gênese por volta dos anos 60 e coloca em xeque a visão tradicional de currículo pregada por Bobbit ( 1918 ).
Nesta teoria, o currículo é visto como uma construção social, uma invenção social. Os teóricos desta vertente curricular propõem questões que têm por objetivo, compreender o que o currículo faz e não o que fazer com o currículo. Além disso, o currículo definitivamente, é um espaço de poder. É capitalista.
Segundo Althusser, a escola é uma instituição ideológica e reprodutora de ideologia. Isto é visivelmente constatado por meio das disciplinas escolares.
Observa-se que os eixos estruturantes desta teoria do currículo, não estão distante dos discursos pedagógicos. A idéia de crítica, me parece ser na prática, reprodução daquilo que o sistema capitalista necessita. Não será a escola hoje ainda reprodutora e mantenedora desse sistema?

Conceitos Norteadores ( Teorias Pós-Críticas )
IDENTIDADE / ALTERIDADE / DIFERENÇA
SUBJETIVIDADE
SIGNIFICAÇÃO E DISCURSO
SABER-PODER
REPRESENTAÇÃO
CULTURA / MULTICULTURALISMO
GÊNERO / RAÇA / ETNIA / SEXUALIDADE
As teorias pós-críticas olham com desconfiança para os conceitos de alienação, emancipação, libertação e autonomia pregado pelos teóricos críticos.
Nas teorias pós-críticas, o conhecimento não se opõe ao poder e nem é exterior a ele. O conhecimento é parte inerente do poder. Com essa teoria de currículo, somos desafiados a compreender melhor os mecanismos de dominação que ocorrem na sociedade e, de modo particular, no interior das escolas.
Ambas as teorias ( crítica e pós-crítica) nos desafiam a compreender os processos pelos quais, através de relações de poder e controle, nos tornamos aquilo que somos. E ainda, elas nos ensinam de diferentes formas, que o currículo é uma questão de saber, identidade e poder.

Em síntese:
“O currículo é lugar, espaço, território.
O currículo é relação de poder.
O currículo é trajetória, viagem, percurso.
O currículo é autobiografia, nossa vida,
currículum vitae: no currículo se forja a nossa identidade.
O currículo é texto, discurso, documento.
O currículo é documento de identidade
Tomaz Tadeu da Silva (2009) .

Algumas considerações finais
a.Trabalhar o currículo seja qual for a corrente teórica que nos orienta, significa situá-lo num contexto social que dê ênfase às interconexões entre a cultura, poder e transformação.
b. “Não há inovação curricular se não houver professor inovador.”
c. “Em tudo que ultrapassa a rotina repetitiva, existe uma ínfima parcela de novidade e de processo criador humano. As bases da criação estão assentadas na faculdade de combinar o antigo e o novo”
d.“Em nenhuma organização de ensino ( ciclo/seriado) um currículo ( grifo meu) irá dar certo, com as constantes trocas de professores e com salas de aulas superlotadas”. ( Luiz Carlos Freitas ).
e.“É preciso transformar a escola por dentro, no seu interior, pois é exatamente ali que se manifestam as contradições sociais”. ( Célestin Freinet )
f.“A condição primeira de todo intelectual deveria ser de anticonformismo”. (Hannah Arendt).
g.“Precisamos investir mais no conhecimento e na produção do mesmo. Quem não se dar conta disto, já está fadado ao fracasso profissional”. Profº Carlos.
h.“Formação continuada é um imperativo categórico. Não dá mais para pensar se faço ou não faço. É uma determinação da razão e da consciência de ser professor”. Prof. Carlos.
Diante do exposto, não podemos mais ver o currículo com a mesma ingenuidade ou inocência de antes e muito menos com a ignorância de hoje, mas vê-lo na trama da vida, fazendo-se e desfazendo-o, construindo-se e desconstruindo-o.
Nada está pronto, acabado e definido, mas também, nada está ainda por começar, haja vista que o currículo é percurso, é trajetória, tem história construída, é identidade.
Há muito que fazer para que as escolas de hoje, a educação do presente e os professores de verdade e não os professauros saiam da inércia e do comodismo exacerbado, pois a mudança e a inovação não estão longe e nem perto de nós, está dentro de nós.

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